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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Como se chama?

Tenho certa necessidade de nomear: quando criança não tinha uma peça de minhas coleções que não possuíssem um nome, inventado, misturado ou admirado.

Mas ela, a menina que encontrei de mais perversa, trouxe-me até então a dúvida maior: como se chama?

Acontece que sempre tive uma inexplicável ciência, pouco empirista, mas legitimada na instituição doeu. Nesta, sem cálculos ou grandes teorias epistemológicas, acreditava eu perfeitamente que as coisas possuem nomes naturais, de origem celestial ou sei de onde... Estes como desconhecia, me sentia como o velho ancião que ditava nomes, mas eu não era um completo ditador, meus ditames seguiam regras: tudo deveria ter exatamente os nome que lhe convém.

Mas acontece que o dia chegou: olhou-me como quem olha sem pretensões, sorriu como quem nada queria, moveu os cabelos de forma que tenho certeza: somente eu perceberia.

Nesse dia passei por uma verdadeira cólera nominativa: como se chama? Como eu, dono dos maiores poderes moderadores existentes dentro de um império limitado por um corpo carnal, nominarei algo que não entendo? Não poderia oferecer um nome banal, desprovido de seus sentidos reais, não podia tratar um nome simplesmente como sequências sonoras, não serviria para minha necessidade.

Passei por uma longa crise existencial, aquilo que outrora me dava tanto prazer e certeza de meus poderes, não tinha controle, não sabia como titular, como dar sonância ao que me atacou de forma traiçoeira e capital, fazendo ruir os alicerces meus.

Passei então a andar por minhas ruas, que construo aos poucos desde criança, ruas estas que não tenho as melhores lembranças, e que agora, com tanta bagunça, tanta incerteza, tanto barulho, já nem mais parecem minhas.

Sem saber, cedi ao desespero como de forma alguma poderia, e nada mais pude fazer do que, humilde, implorar: o que não compreendo, que não ouso mentir e dizer que vi, o que me estremece, a incerteza que teus olhos revelam para os melhores leitores, como se chama?

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