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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Era de vidro, mas não se quebrou

Parei em frente a uma vitrine, olhei o brilho que de lá nascia e dei alguns passos, era como se algo me chama-se de volta, relutei, andei mais um pouco, parei.
Diante da vitrine não lembro muito, só lembro que entrei após pensar mil coisas, sem se encaixarem.
Dentro da loja, olhei aquele anel por um tempo, perguntei de que era feito, recebi um leve e suave:
- não está à venda, senhor
- gostaria de comprar-lo
- mas não está a venda,
Voltei a insistir:
- mas por que, não? Não importa o preço
- este anel é de vidro senhor, não tem valor algum
- se é de vidro, por que ele emite tanto brilho?
- o senhor está enganado, este anel não emite brilho
Após muito insistir, consegui comprar o anel, levei-o para casa, olhava-o de todos os ângulos, não me parecia feito de vidro... O coloquei dentro da mochila.
No outro dia, passando pelo corredor enxerguei uma garota, de brilho intenso, sorriso no rosto e... brilho intenso. Peguei rapidamente o anel, algo tinha mudado, o anel não brilhava, mas, os olhos, os olhos sim. Caminhei lentamente em direção a garota, disse:
- tenho uma encomendo
- pra mim?
- sim, acho que sim
Nunca aquela garota, aquela boneca, saiu de meus pensamentos, nem o anel. Creio que não era real, talvez o anel não brilhasse mesmo, talvez... talvez, o anel que dei a ela fosse de vidro, mas tenho certeza, que ele não se quebrou.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Chá de sumiço

Volta e meia ouço o que ouvimos: tomou um chá de sumiço, foi?
Esse famoso chá, que não tem cheiro, sabor, mas tem veracidade.
Estou meio preso as raízes de meu recanto, meu canto está silenciado, perdi a pouca sagacidade restante, ando da cama para a mesa, reescrevo textos inéditos, ouço infindáveis melodias.
Tenho evitado evitar as coisas, tenho tentado tentar as pessoas, pôr o dedo em feridas alheias (não aconselho), o que me trouxe um pouco de paz, talvez por está quase sempre sozinho. Não que eu tenho me afastado das pessoas, elas que se afastam de mim, sinto a necessidade de mudar, de provar o novo, sem esquecer-me do velho.
Ando abastado das coisas, olho ao longe, mas nada vejo... Penso, em indispensáveis besteiras, entre elas, uma coisa que percebi importância de grande tamanho, o tal, o tal, o tal chá de sumiço, será ele real? Se real qual será sua composição, vários e vários compostos aromáticos?
Andando cabisbaixo, da cama para a mesa, reescrevendo textos inéditos, ouvindo infinitas melodias. Seria o tal, feito de um pouco de tristeza e uma leve dose de preguiça?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Pano, Linha... Amor

A consagrei-a mais bela de todas, que encanta meu canto no chuveiro, alegra minha poesia diária e incita minha oração noturna.
Em um vestido de renda me arrendou o coração, simplicidade cativa com evidente beleza altiva. Me cativa sua simplicidade, quase sempre de cabeça em pé e com sorriso no rosto, com bola pra frente e bola no chão.
Pensei em uma consagração mais nobre: princesa, deusa, rainha... Porém, nenhum título se mostrou nobre perante sua alusão, então achei conveniente ser conveniente e não penso em idolatrá-la, mas sim, em uma garota feita de pano, com linha, agulha e amor.
Passei a ser o mais lúdico dos apaixonados, segreguei-me da vaidade e agreguei-me na amplitude do ser, no seu sorriso e em sua preocupação, sem sentido quase sempre, já que quase sempre fomos afastados e abastados um do outro. Veio-me sem avisar, sem mandar prefácio ou pré-texto, ignorou a regra e a exceção, e talvez sem interesse, me teve completamente em mãos.
Decidi deixar-me alucinar, adormecer assustado procurando quem nunca vi ao lado, e assim, dia após dia, irei seguir o que reza a lenda e o que manda a prenda, deixar a beleza do “ser”, ser, vou deixar-la livre, para assim um dia quem sabe, possa bater em minha porta, possa e passe a se encantar por meu canto, que nesse dia sinta-se a vontade para se acomodar em meu recanto, boneca de pano minha, minha prece é que se apresse...