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sábado, 11 de junho de 2011

Barbarizarão do Lugar de Vivência

    
Lembro-me de minha primeira viagem desacompanhado de meus “responsáveis”, estava fascinado, com dentes aos lábios assim como o admirável e inteligente guia, conhecedor de geografia e história. Estava incansável e prestativo, aberto a encher-me de ilusões.  
        Apresentaram-nos o que vemos normalmente em qualquer cidade colonial, belas igrejas diante a uma praça, com os restos de um pelourinho mostrando os resquícios da exploração lusa.  
        O guia provavelmente não se cansou, o museu, igreja principal, cine, feira (quase inexistente) estavam ao redor da praça, mesmo se houvesse esforço físico, não tiraria a disponibilidade e gentileza comprada em pacote, acompanhadas por alguns conhecimentos específicos.
        Tinha aproximadamente uns 11 anos, com discernimento, mas não o suficiente para livrar-me do belo que saltava aos olhos. Mostraram e gostei do que vi, porém, camuflaram o que mais interessa, o primeiro sopro de vida de um ser, humano ou não, o que instiga nosso movimento, a fome.
        Tornaram-me passivo diante a uma conspiração, não diabólica, mas capitalista, meus olhos brilharam ao contemplar um outdoor colonial, arquitetura morta, moldada com sentimentos superficiais, deixaram-me amorfo, admirando uma cultura inexistente, um não-lugar, sem identidade.
        Na rota do ônibus confortado, afastaram a pobreza, a miséria, o INDESEJADO. Excluíram o feio que não agrada a olhos abastados e meramente curiosos, que procuram o pitoresco de uma “civilização” remota, com aparência de novo e cheiro de povoamento, semeações de idéias que exigem sensibilidade para o conhecimento, porém, a indústria do turismo não leva ao conhecimento, somente ao reconhecimento que não agrega, segrega valores (R$), separa o belo do feio, o grande do pequeno... posiciona o interesse no lugar da vivência, da essência humana.

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